RESENHA POLÍTICA- Deputada Federal Silvia Cristina, apesar de ser parlamentar atuante, paga caro pelo fato de ser mulher e negra
RESENHA POLÍTICA- POR ROBSON OLIVEIRA
TROPA
Governador Marcos Rocha que sobreviveu politicamente onde tantos caíram.
Tem a caneta, a máquina e o selo bolsonarista, o que em Rondônia ainda vale
mais do que programa de governo. Sua vantagem é óbvia: fala a língua da
maioria conservadora, tem estrutura e pode vender a imagem de
“continuidade”. Embora seja um político sem o carisma de tantos que
passaram: tem um perfil discreto, sério e distante do populismo fácil. Não é um
líder nato, mas aprendeu a comandar uma boa tropa de seguidores leais.
RISCOS
Já o senador Marcos Rogério, provável candidato a reeleição, é o mais radical
de todos, mas também o mais articulado. Orador competente, domina o palco e
sabe encarnar o personagem bolsonarista sem parecer forçado. Não à toa,
lidera todos os cenários até aqui. O problema é manter o fôlego: ser favorito
cedo demais é convite para virar alvo de tiro ao alvo coletivo. Todos os
concorrentes querem um pedaço do eleitorado que ele monopoliza, sobretudo
dentro da própria bolha bolsonarista — e aí mora o risco de sangrar até a reta
final.
PRECONCEITOS
Sílvia Cristina é uma deputada municipalista, fez carreira ouvindo prefeitos e
puxando verbas para a saúde, sua marca registrada. Começou no PDT, com
discurso mais progressista, mas a onda bolsonarista em Rondônia a empurrou
para uma inflexão conservadora — cálculo político de sobrevivência. Apesar de
ser uma parlamentar atuante, paga caro pelo fato de ser mulher e negra: sofre
racismo, sexismo e até agressões absurdas sobre sua vida pessoal. Tem
densidade política, mas enfrenta uma muralha de preconceitos que tornam sua
escalada ao Senado muito mais árdua do que a de seus colegas homens.
MESTRE
Confúcio Moura foi prefeito de Ariquemes, deputado federal por vários
mandatos, governador duas vezes e hoje senador. Um sobrevivente nato.
Confúcio é a clássica raposa política: se faz de morto, observa em silêncio, e
quando escolhe a presa, vira águia certeira. Embora Rondônia seja
majoritariamente bolsonarista, ele tem um trunfo raro: está na ala conservadora
do MDB, mas integra a base lulista — equilíbrio improvável que pode
transformá-lo em segunda força senatorial em 2026. Matreiro, sim. Mas
também competente e correto no que fala e pensa. O tipo de político que
ninguém deve subestimar. Um mestre nato da política rondoniense.
NOVATO
O pecuarista Bruno Scheid é um novato de tudo: nunca disputou eleição, não
tem tradição partidária e até agora não disse a que veio em termos de
propostas para Rondônia. Seu trunfo é único e explícito: é amigo pessoal de
Jair Bolsonaro. Joga todas as fichas nessa relação — e Bolsonaro, raivoso
como sempre, já declarou que ele será “um dos seus candidatos ao Senado”,
parte de sua cruzada para eleger estafetas e se vingar do STF. Scheid é a
aposta do bolsonarismo raiz, mas depender só do carimbo de amizade
presidencial pode transformá-lo mais em mascote de campanha do que em
senador de verdade.
REPETIÇÃO
A filha de Aparício de Carvalho, Marina, carrega no currículo três derrotas em
disputas majoritárias, embora tenha votação expressiva na capital. O problema
é estrutural: no interior, onde se decidem eleições para o Senado em Rondônia,
os concorrentes têm raízes mais profundas e falam a língua do eleitor
interiorano. Se insistir em mais uma corrida senatorial, Mariana corre o risco de
ampliar a coleção de derrotas. Já numa disputa para deputada federal, o
cenário é bem mais favorável: aí sim, o capital político construído em Porto
Velho pode se converter em vitória segura. A fama de “cavalo paraguaio” lhe
persegue.
REINCIDENTE
Márcio Castro Rodrigues, bolsonarista condenado pelos atos de 8 de janeiro,
que cumpria pena alternativa, tentou transformar o 7 de setembro em desafio
ao STF e, especificamente, ao ministro Alexandre de Moraes. Com postagens
provocativas nas redes sociais e convocação de um protesto em Porto Velho, a
estratégia parecia ousada. Mas o que se desenrolou foi o oposto do espetáculo
planejado: o ato fracassou e Rodrigues acabou atrás das grades — justamente
por ordem de Alexandre de Moraes. A cena reforça que a combinação de
arrogância virtual e desrespeito à lei tem consequências concretas, mesmo
quando o palco é apenas digital. No xilindró, e sem rede social, terá tempo
para meditar sobre a reincidência criminosa.
JULGAMENTO
O ministro Alexandre de Moraes, relator do processo da tentativa de golpe de
estado, foi incisivo em seu voto, defendendo a condenação de Jair Bolsonaro e
seus aliados pelos crimes de tentativa de golpe de Estado e abolição violenta
do Estado Democrático de Direito. Moraes destacou que os atos praticados
pelos réus atentaram contra os pilares da democracia brasileira e a ordem
constitucional, enfatizando a necessidade de uma resposta firme do Judiciário
para preservar a estabilidade institucional. Sua postura reafirma o papel do
STF como guardião da Constituição e da ordem democrática.
CONDENAÇÃO
O ministro Flávio Dino acompanhou o voto do relator, Alexandre de Moraes,
alinhando-se à tese da tentativa de golpe e abolição violenta do Estado
Democrático de Direito. Dino acrescentou, no entanto, uma nuance importante:
sugeriu penas diferenciadas para alguns réus, como Paulo Sérgio Nogueira e
Augusto Heleno, reconhecendo a menor participação de certos envolvidos nos
atos golpistas. Essa abordagem evidencia uma tentativa de balancear a
necessidade de punição com a justiça proporcional, refletindo uma visão mais
moderada dentro da Corte.
DIVERGÊNCIA
O ministro Luiz Fux, único integrante da Primeira Turma do STF que não sofreu
retaliações do governo dos Estados Unidos, tornou-se a última esperança dos
defensores de Jair Bolsonaro. Enquanto outros ministros enfrentaram sanções,
como o cancelamento de vistos e congelamento de bens, Fux permaneceu
intocado, o que reforçou sua imagem como um possível aliado do ex-
presidente.
No julgamento, Fux divergiu dos colegas ao votar pela incompetência absoluta
do STF para julgar o caso, argumentando que, à época dos fatos, a
jurisprudência da Corte estabelecia que a prerrogativa de foro cessava com o
término do mandato. Essa posição foi vista por muitos como uma tentativa de
proteger Bolsonaro, alinhando-se à narrativa de seus apoiadores de que o
julgamento seria politicamente motivado.
Apesar de sua postura, Fux não conseguiu evitar a condenação do ex-
presidente. Sua tentativa de influenciar o desfecho do julgamento, no entanto,
reforçou a percepção de que o STF está dividido e que pressões externas
podem impactar as decisões