COLUNA A VERDADE NOS BASTIDORES- Entre gritos e manchetes: quando a narrativa vence o debate

COLUNA A VERDADE NOS BASTIDORES- Entre gritos e manchetes: quando a narrativa vence o debate


Por: Valcenir Silva


Valcenir Silva é Teólogo, psicanalista e autor do livro Amor Redentor.



Na última terça-feira, uma audiência pública, Comissão de Infraestrutura do Senado Federal,  que deveria ser marcada pela discussão técnica sobre temas cruciais ao futuro, especialmente da região Norte — como o avanço da Margem Equatorial, a pavimentação da BR-319 e o sufocamento da infraestrutura amazônica — foi tragada por um espetáculo de histeria e manipulação midiática.


A protagonista da cena foi a ministra Marina Silva, que, ao se ver confrontada por senadores — inclusive de sua própria base, como o senador Omar Aziz — abandonou o debate e embarcou numa encenação que serviria de combustível perfeito para alimentar a fogueira ideológica da militância.


O presidente da Comissão, senador Marcos Rogério, manteve a postura que o caracteriza: serenidade, firmeza e respeito às regras regimentais. Conduzia os trabalhos, como lhe compete, buscando garantir que os temas fossem debatidos com seriedade. Mas não foi isso que a ministra aceitou.


Ao ser interpelada com perguntas incômodas, deixou de lado a compostura esperada de uma ministra de Estado e adotou uma postura beligerante. Apontou o dedo, agarrou o braço do presidente da sessão e interrompeu falas dos senadores com voz alterada. Quando Marcos Rogério lhe pediu, com firmeza, que “se colocasse no seu lugar” — ou seja, no lugar institucional de ministra da República — a ministra, e com ela a militância e parte da imprensa, viram nisso não uma chamada à ordem, mas um “ataque machista”.


É aqui que a análise precisa ultrapassar a espuma da superfície.


A esquerda, sempre tão diligente em exigir igualdade plena entre homens e mulheres em todos os espaços — o que é justo e legítimo —, curiosamente lança mão do vitimismo seletivo quando a igualdade exige enfrentar o contraditório. A ministra não foi hostilizada por ser mulher ou negra. Foi cobrada por sua função, como qualquer homem em sua cadeira também o seria. Mas, ao perceber que os fatos lhe eram desfavoráveis, a saída encontrada foi a inversão da lógica: o argumento foi abandonado, e a narrativa tomou o seu lugar.


Essa é a arte que a esquerda domina como ninguém: transformar embates políticos em campos morais onde seus adversários são sempre “agressores” e suas lideranças, “vítimas”. Ignora-se o mérito, apela-se para o emocional. Enquanto isso, os reais problemas — o abandono da BR-319, os entraves ao desenvolvimento da Amazônia, os ataques constantes ao agronegócio, as dificuldades do pequeno produtor — saem de cena. Não geram cliques. Não rendem manchete.


E se há algo ainda mais grave do que o jogo desonesto da vitimização forçada, é a cumplicidade da grande imprensa. A mesma mídia que se diz defensora da verdade preferiu estampar nos portais que Marcos Rogério teria cometido uma “agressão verbal” à ministra, ignorando completamente o contexto dos fatos, os excessos da ministra e, sobretudo, a sua perda de controle diante de um debate que não conseguia sustentar.


Transformar uma audiência pública em um teatro de lacração não é apenas um desrespeito ao parlamento — é um desrespeito ao povo brasileiro. Especialmente ao povo da região Norte, que há décadas é marginalizado nas decisões de Brasília. Gritar mais alto não é responder melhor. E se a ministra acredita que o Senado é uma extensão de seu palanque ideológico, cabe lembrá-la: ali se debate o futuro do país, não se performa para plateias militantes.


Felizmente, o Brasil ainda conta com vozes firmes, como a de Marcos Rogério, que não se intimidam com rótulos fabricados e se mantêm fiéis à missão de fiscalizar, cobrar e proteger os interesses da população — ainda que, para isso, precisem enfrentar gritos, dedos em riste e manchetes desonestas.


No fim das contas, o que se viu foi menos um episódio de machismo e mais um caso claro de oportunismo político.


E como sempre, enquanto o circo pega fogo no picadeiro da narrativa, o povo — que só queria uma estrada pavimentada, licenças para trabalhar e políticas públicas eficazes — segue à margem, sem respostas.


Valcenir Silva é Teólogo, psicanalista e autor do livro Amor Redentor.

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